Depois de ficar buscando sentido para o absurdo ocorrido no confronto entre a polícia militar e polícia civil em São Paulo, resolvi refrescar a cabeça assistindo a um belíssimo filme. As Pontes de Madison. Mas como sempre, ao assistir a um filme, sempre faço uma análise posteriormente, com As Pontes de Madison não poderia ser diferente. Para tanto, foi necessário uma avaliação criteriosa do citado filme, sem contudo, inferir a ele nenhum julgamento motivado pela moral e pelo preconceito.
O filme narra a história de amor inesperada entre as personagens de Francesca (Mary Streep) e Robert (Clint Eastwood); ela, Francesca, é uma mulher de fazendeiro, e ele Robert, um fotográfo, famoso e viajado, à serviço da revista geográfica. Os seus caminhos se cruzam e entrelaçam de uma forma que os marcará eternamente. Quando Robert, vai ao condado de Madison para fotografar suas famosas pontes, é desviado do caminho se perdendo e entrando acidentalmente na fazenda de Francesca. Chegando lá, depara-se com Francesca que está às voltas com seus afazeres domésticos. Francesca é uma simples mulher que só conhece seu pacato mundo e que naquele momento acabara de se despedir de seu marido e filhos que saíram em viagem de quatro dias a uma feira agropecuária em outra cidade.
Ao pedir informação a Francesca, ambos são reunidos por uma experiência amorosa que os marcará por toda suas vidas. Neste momento, tem-se inicio a uma das mais belas histórias de amor vivida em quatro dias, história essa que levantará questões polêmicas com relação a traição, amor, respeito, sacrifício, oportunidades e perdas.
Ao assistir ao filme, busquei avaliar as questões acima, dentro de um ponto de vista racional, emocional e ético, favorecendo a outras pessoas que assim como eu, buscou uma compreensão mais clara do enredo que permeia as personagens, sem contudo inferir comentários levianos e preconceituosos nas atitudes manifestadas pelos protagonistas.
As personagens, Robert e Francesca, vivem uma tórrida história de amor capaz de tocar fortemente nas mazelas de um casamento ou de uma vida à dois. A paixão arrebatadora entre ambos, favorece a eles uma reflexão de toda suas vidas. Francesca se questiona com relação a vida que leva, e se o amor tal como ela vive, sobrevive a rotina. Já Robert, usa a luz das suas lentes, para revelar, não só os objetos, mas, antes, a sua própria verdade. Tudo isso em meio a um amor ardente que coloca suas vidas em xeque-mate. Francesca é levada a escolher entre fugir ou ficar, e Robert coloca sua esperança de viver um grande amor em suas mãos. O momento é difícil, mas a única certeza que ambos têm, é que "as coisas que verdadeiramente valem à pena devem ser sentidas não com a razão, mas sim com o coração". E eles se entregam a esse sentimento, transformando assim, as emoções triviais, que pensamos compreender, em algo raro e brilhante. E o resultado de tudo isso? É a experiência única, apaixonada e comovente de um amor vivido em apenas quatro dias. Algo não muito racional, já que teriam que decidir suas vidas neste período.
Mas, ausência da razão, o que não implica na falta dela, logo os chama para a realidade. É isso mesmo, a razão, que está logo ali, antes mesmo do prazo terminar, sinalizando, despejando um mundo de motivos para que Francesca deixe o amor, virar a esquina e que se vá para todo o sempre, levando-o para longe dos olhos, longe do corpo, mas jamais para longe de sua alma. E agora? Qual seria a escolha viável para ambos? seria justo sacrificar seu amor em prol de seus filhos e marido? A escolha de Francesca me pareceu ética. Sacrificar a chance de viver plenamente feliz com uma pessoa, em favor de seus filhos, pareceu-me uma escolha sensata, afinal, quem garante que se fosse ao contrário ela seria feliz para sempre? Os quatro dias de amor intenso vivido pelos dois, ultrapassou as barreiras do tempo, serviu de reflexão para os filhos de Francesca, que com o passar do tempo, tomam conhecimento do acontecido ao lerem seus escritos, muito tempo depois. E diante do que leram, foram chamados a reflexão pela forma com que eles tratavam suas esposas. Sensibilizados pela comovente carta de sua mãe, eles procuram se redimir perante suas famílias. Se Francesca tivesse escolhido viver esse amor, talvez a atitude de seus filhos tivesse sido diferente. Não há garantias neste sentido. A garantia que temos é que Francesca, fez uma reflexão de si mesma, escolheu retomar sua vidinha pacata, sabendo que era necessário continuar vivendo... pois viver era preciso, afinal ao acordarmos todas as manhãs, nos deparamos com a realidade do fim e com o fim, vem a crença no que é justo ou injusto, seria o amor justo ou injusto? Mas o que tem a ver o amor com justiça? Nada. O amor é imenso, maior até que a própria vida, e nós só temos a certeza disto quando nos permitirmos viver esse amor intensamente, pelo menos uma vez na vida. E quando isso acontecer, tudo mais fará sentido e o silêncio não será mais tão inconcebível. Amar em silêncio às vezes faz sentido, por isso a escolha de Francesca foi sensata e ética, apesar de nós mulheres, ainda não possuirmos maturidade para compreender tamanho sacrifício. Mas, a personagem Francesca, não só se mostrou madura como foi capaz de compreender a situação atípica a que ela foi acometida. Ela compreendeu que, enquanto o corpo sente a falta do toque, a alma encontra-se por totalmente completa, e apesar da dor da perda de um grande amor, ela sabia que lhe restaria a lembrança dos quatro dias inesquecíveis, guardado em sua memória para ser lembrado por toda a eternidade. Para nós, pode parecer pouco, mas acredite... para ela não.
As Pontes de Madison é um belíssimo filme e uma excelente leitura para quem gosta de romance, pois retrata o amor na sua fase mais adulta, chegando no momento em que nada mais esperamos da vida, quando nossos sonhos de adolescentes foram esquecidos, a lembrança de uma situação totalmente atípica de uma amor vivido intensamente, nos faz refletir e questionar toda uma existência.
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