Chegou carnaval, tempo em que todo o país pára para participar da maior festa popular do planeta. Nos quatro cantos do Brasil pessoas se entregam a magia do carnaval; é escola de samba, é frevo, é trio elétrico, tudo isso para esquentar esse grande calderão cultural do Brasil.
Como sou baiana, vou falar um pouco do carnaval da minha terra. Dizem os turistas que ele é o melhor do país, tirando a modéstia é mesmo, pois os ingredientes necessários para aquecer esse caldeirão encontramos aqui, em Salvador, local onde SE CANTANDO TUDO DÁ. Mas se o carnaval de Salvador é o melhor do país, isso se deve a nossa gente que vão as ruas como "pipoca", levando consigo a alegria e o gingado jamais visto iguais. Mas esta alegria e este gingado estam sendo ameaçados pela grande indústria que se tornou o nosso carnaval, os blocos tomaram os espaços que antes eram só dos foliões. As ruas ficaram apertadas devido a imensidão de pessoas que exprimidas, ingressam aos blocos.
Lembro-me que algum tempo atrás, brincar nas ruas de Salvador no carnaval era um privilégio, poucas pessoas saíam em blocos, que por sua vez não cobravam "os olhos da cara" a quem quissese integrá-los. Hoje após tanta divulgação do nosso carnaval, ele se tornou atrativo para turistas, não que eu tenha nada contra, pelo contrário eles sempre serão bem-vindos a nossa terra, mas 80% dos abadás vendidos são para eles que ao deixarem Salvador já garantem para o ano seguinte o seu abadá, enriquecendo bastante os donos de blocos. O outro ponto crucial são os camarotes que são armados ao longo da avenida estreitando ainda mais as ruas, expremendo os foliões entre as cordas dos blocos e os camarotes, daqui a algum tempo nós não teremos mais foliões nas ruas, pois os camarotes enfileirados darão lugar a um BLOCODROMO (inventei agora esse nome), não existe o SAMBODROMO, onde de um lado e de outro existem arquibancadas para as pessoas assistirem os desfiles das escolas de samba? pois bem, será criado em Salvador dentre em breve, o BLOCODROMO, onde as pessoas que tiverem dinheiro assistirão aos desfiles dos blocos, isso já pode ser visto do Campo Grande até o Relógio de São Pedro. É lamentável vermos isso acontecer como o nosso carnaval sem poder fazer nada. Não brinco mais no carnaval da minha terra, as ruas não cabem mais tanta gente que se expremem entre os blocos e os camarotes, e nem tampouco sou louca para pagar R$ 1.200,00(mil e duzentos reais) em um pedaço de pano para brincar 03(tês) dias, só mesmo os turistas fazem isso, e os donos de blocos agradecem.
Sinto saudades do antigo carnaval de Salvador, onde independentemente de cor, raça e credo, todos podiam brincar, o espaço era suficiente para todos, tanto para os que brincavam nas ruas, como para os que brincavam em blocos, e não eram tantos assim, sinto saudades principalmente do tradicional "Encontro de Trios" na Catro Alves no último dia de carnaval onde as grandes estrelas, hoje esquecidas, uniam-se para tocar para uma multidão que o esperavam até amanhecer. Esse era o Carnaval de Salvador, o melhor e maior de todos os carnavais, infelizmente, as grandes estrelas que por muito tempo conduziram magnificamente o nosso carnaval foram esquecidas e o Tradicional Encontro de Trios não é mais na Castro Alves, em seus lugares vemos estrelas acometidas de estrelíssmo, onde cada uma delas faz o carnaval para o seu público; é o "Arrastão da Timbalada", é o "Arrastão da Madeirada", é o "Arrastão do Voa-Voa e assim, vamos fragmentando cada vez mais o carnaval de Salvador, cada circuito da cidade destina-se a um público, a Barra hoje, é a alternativa para aqueles que não podem pagar os blocos tidos como "oficiais" que desfilam na Avenida Sete.
Enfim, é uma pena ver o nosso carnaval virar uma vitrine comercial e sua magia se tornar apenas uma lembrança para quem um dia soberam o aproveitar.
"Atrás do trio elétrico só vai quem é turista e quem tem dinheiro"
SOL