Imaginem um lugar onde os seres humanos são impedidos de sentir qualquer emoção que lhe é própria. Agora imagine que neste mesmo lugar tudo que possa despertar a sensibilidade humana é escondida ou queimada, a exemplo das obras de artes, livros, e músicas.
Por hora basta que você saiba que este lugar passou pela 3ª guerra mundial, e aqueles que sobreviveram a ela sabiam que a natureza vulnerável da humanidade não sobreviveria a uma 4ª guerra se ela fosse exposta. Então, uma ramificação da lei foi criada, o Clero Grammaton, cuja única tarefa é procurar e erradicar a real fonte de crueldade entre os humanos: a capacidade de sentir, vista como doença, pois há a crença de que as emoções foram culpadas pelos fracassos das sociedades do passado. Desta forma existe um estado totalitário, a Libria, que é comandado por uma pessoa a que eles chamam de "Pai" , que só aparece através de telões enviando mensagens, promovendo uma lavagem cerebral. Foi decretado que os cidadãos devem tomar diariamente Prozium, uma droga que nivela o nível emocional. As formas de expressão criativa estão contra a lei, sendo que ao violar qualquer regulamento, o cidadão cometeria o crime sensório e a não-obediência é punida com a pena de morte, ou seja, a combustão humana. John Preston é um clérigo Grammaton, um oficial da elite da lei, que caça e pune os "ofensores", além de ter poder para mandar destruir qualquer obra de arte. Um dia, acidentalmente, Preston não toma o Prozium e pela primeira vez ele sente emoções e começa a fazer questionamentos sobre a ordem dominante. Esse lugar é chamado de Equilibrium.
Aqui estou eu novamente sempre a refletir acerca de temas conflitantes, e quero convidar você , visitantes do meu BLOG, a fazer o mesmo. Em algum momento de nossas vidas esboçamos o desejo de viver em um lugar assim. Desejamos responder a uma ofensa emocional sem nenhuma manifestação de sentimento, só para não ter o desprazer de nos igualar ao nosso agressor.
Por certo, esse desejo surge quando somos ultrajados, traídos, decepcionados, preteridos, quando somos atingidos em cheio pela vaidade, pelo orgulho, pelo autoritarismo ou pela baixa-alta-estima de alguém, que em algum momento, se sentiu rejeitado e por causa desse sentimento deslocado, desajustado somos fatalmente atingidos. Sentimentos próprios do ser humano, mas que carrega em si um requinte de crueldade.
A narrativa do primeiro paragrafo se refere ao filme Equilibrium, filme este, que havia assistido, mas que neste final de semana passou repetidas vezes na SKY. Como sou cinéfila não pude deixar de rever-lo. Só que como sempre, encontrei no filme revisto algo que antes não havia detectado. Por isso é sempre bom rever filmes! Só para constar, Equilibrium, foi o filme que deu origem ao fenômeno Matrix, e tem como ator principal Christian Bale no papel do clérigo John Preston. Vale a pena ver!
Minha reflexão teve inicio da seguinte forma: O que eu faria se tivesse que viver num lugar desprovido de todo e qualquer sentimento humano? seria eu capaz de sobreviver a ele?
Talvez eu respondesse que sim, se recordasse de tudo que passei e enfrentei ao ser atingida por projétil de um sentimento mal administrado de alguém. Mas, não posso acomodar em mim aquilo que é resultado dos desajustes, precariedade e falta de sabedoria por parte da natureza volátil da humanidade. Talvez por uma fação de milésimo de segundos, o meu inconsciente... “disse meu inconsciente” e não consciente, tenha desejado ser um habitante de Equilibrium. Mas, como é perfeitamente explicado pela psicanálise; quando o consciente corre perigo (sofre uma emoção, sentimento, lembrança) ele é automaticamente acionado por um SISTEMA DE DEFESA psíquico que, de forma inconsciente, age "protegendo" nosso consciente daquilo em que ele, em tese, não está apto a lidar. E foi isso que aconteceu comigo, o meu sistema psíquico foi acionado diante do sofrimento que seria viver em um lugar onde não houvesse sentimento humano. Eu não saberia lidar com a ordem dominante daquele lugar. Fatalmente iria incorrer em crime sensório, seria condenada a pena de combustão, mas no final... Ah! No final... certamente ressurgiria das cinzas, como uma Fênix, pássaro da mitologia grega, que morria em auto-combustão, tornando-se símbolo da imortalidade e do renascimento espiritual...
É assim que sou... humanamente sensação, pois vivo e respiro emoções, uma Fênix que dramaticamente se consome em fogo renascendo a cada sentimento. Não há desencantamento, não há decepção, não há traição que me faço perder a crença, ainda que volátil, na natureza humana, é nisso que creio... pois se assim não fosse, não haveria razão para eu continuar.
E você o que faria se tivesse que viver em Equilibrium?
“Sofrer é como experimentar as inadequações da vida. Elas estão por toda parte. São geradas pelas nossas escolhas, mas também pelos condicionamentos dos quais somos vítimas. Sofrimento é destino inevitável, porque é fruto do processo que nos torna humanos. O grande desafio é saber identificar o sofrimento que vale a pena ser sofrido. Se hoje a vida lhe apresenta motivos para sofrer, ouse olhá-los de uma forma diferente. Não aceite todo esse contexto de vida como causa já determinada para o seu fracasso. Não, não precisa ser assim. Deixe-se afetar de um jeito novo por tudo isso que já parece tão velho. Sofrimentos não precisam ser estados definitivos. Eles podem ser apenas pontes, locais de travessia. Daqui a pouco você já estará do outro lado; modificado, amadurecido.” (Quando o sofrimento bater à sua porta – pe. Fábio de Melo)
Muita paz para todos!
Solares