DANUZA LEÃO
As manchetes dos jornais não precisariam falar de coisas muito importantes. Poderiam contar que neste ano estão crescendo flores, misteriosamente, em todos os canteiros de todos os prédios, e que até as vielas das favelas estão floridas e coloridas.
Além disso, por um capricho da natureza, elas estariam mais cheirosas do que nunca, e que esse fenômeno está fazendo com que as pessoas estejam mais gentis, mais delicadas, mais felizes. E os traficantes, no lugar de traficar, levariam grandes buquês para suas namoradas, que retribuiriam com beijos e palavras amorosas.
Os jornais diriam que nossos deputados e senadores se renderam à beleza que tomou conta do país, e durante esta semana esqueceriam de seus interesses particulares e só votariam projetos a favor do bem-estar geral. E isso lhes faria tanto bem que eles sairiam do Congresso a pé, falando com todas as pessoas com quem cruzassem na rua, sorrindo, simpáticos, como faziam quando estavam em campanha. Eles também colheriam e levariam flores para suas mulheres, com um carinho que elas já haviam esquecido que existia.
As rádios só tocariam canções de amor, e as televisões mostrariam praias, montanhas, lugares lindos onde se poderia passar uns dias só sendo feliz, mais nada.
Algumas pessoas não seriam citadas no noticiário desta semana, e seria proibido falar de qualquer partido político, já que eles só nos trazem desgosto. Responda rápido: algum deles lhe trouxe alguma alegria nos últimos tempos?
Os assaltantes dariam uma trégua e iriam à praia dar um mergulho para esfriar a cabeça, e quando voltassem para casa encontrariam suas mulheres felizes, preparando o almoço, e a casa cheirando a um refogadinho feito na hora. E os dois sorririam um para o outro e talvez até se amassem e deixassem a panela queimar, aliás por justíssima causa.
As crianças nas praças se enfeitariam com flores nos cabelos e não dariam um único grito; o único ruído que fariam seria o de risos e gargalhadas, tão felizes estariam. Pássaros voariam sobre nossas cabeças, e borboletas de todas as cores dançariam, naquela coreografia louca que só elas entendem.
Nessa semana, só uma coisa seria proibida: tirar fotos com o celular.
Para que as pessoas soubessem que os momentos de verdadeira felicidade são guardados dentro do peito, deles não se esquece, e para isso não precisamos de nenhuma maquininha.
Barraquinhas ofereceriam água de coco gelada e pão de queijo fumegando, de graça, como se estivéssemos numa quermesse; ninguém teria a menor preocupação com coisa alguma, ninguém falaria de doenças nem de tragédias, até porque ninguém estaria doente e nenhuma tragédia teria acontecido.
Teríamos a ilusão, durante uma semana, de que a vida seria assim, para sempre; e à noite, quando aparecessem os primeiros vaga-lumes, a certeza de que todos nossos sonhos iriam se realizar.
Aliás, uma semana seria demais; bastaria que fosse assim por um dia.
Mas talvez eu esteja querendo demais...
Feliz 2009!
Solares